"Não basta dizer que se é consciente de algo; é-se, também, consciente de algo como sendo algo"



domingo, 18 de dezembro de 2011

..:: Pra ser romântico, e sincero ::..



Pra mim, aquele aluno tão problemático só era mais uma vítima, não passava de um sujeito que precisava de oportunidades, pra se sentir capaz de produzir, de "ser" e "estar" no mundo. Ele cresceu numa proporção sem tamanho, e me disse que "tá tentando", tentando ocupar um espaço que não é um lugar ao sol, afinal de contas, quem se contenta em queimar a pele pra viver bem?! 

Eu queria mesmo era que o meu corpo pudesse ser partilhado, e cada pedaço dele desse conta de aliviar a vida dos que precisam emergir da condição de simples sobrevivente!

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

..:: Lugares de memória ::..



Percorrer as estradas de terra da zona rural, a trabalho, cheias de "costelas de vaca", ultrapassando riachos e açudes, em meio a cabritos e "pés de palma" para "dar de comer" ao gado do Sertão, além de contemplar os assobios de pássaros, muito particulares, tem me feito um bem danado. Tem acionado lembranças que recorrem ao tempo em que as férias não se perfazia apenas como momento de recreação e folga da escola, pois era a aproximação do terreno em que se podia semear sorrisos, liberdade e vida. Um lugar pra ser acordado com os galos a cantarolar; onde estava acompanhado de brisa e verde, com os leves sussurros daqueles que compunham a terra, na qual eu me banhava em grandes lajedos de pedra carregando latas na cabeça e a certeza de que a minha intimidade pertencia ao vento e a todas as testemunhas de que dispõe tal lugar. O melhor de tudo era o leite de cabra que clareava os meus cabelos, as vacas que fazia questão de ordenhar junto ao meu tão querido tio "Manequinha", dentre tantas outras atividades que enfeitavam o nosso cotidiano e que fazia de mim um dos sobrinhos preferidos. Preferido mesmo, eu era da minha vozinha "Bilia". Era um transbordamento de cuidado e amor, por mim e por essa terra de que tanto falo; a mesma terra que adoçou a sua existência, quando fora estadia, mas também ao se fazer ausência, afinal de contas, para que nos servem as lembranças e os lugares de memória que construímos?! Uma ausência que hoje promove esse derramar de lágrimas aqui. A falta das duas, da terra e da vozinha, só alimenta o desejo de que não se torne comum sentir estranheza quando me deparar com lugares semelhantes, só porque AMOR e VIDA não se subverte assim, com o uso de aspas (") para demonstrar que as palavras que nos identificam estão erradas ou não compõem o vocabulário usual.

quinta-feira, 30 de junho de 2011

..:: Maria e moleque ::..


Moleque tava dando um tempo na fogueira
Puxando um "back" na ladeira da favela
Quando passou Maria Rita do Anescar
A mais cheirosa e mais bonita do lugar

Moleque se mandou atrás da rapariga
Deixou Formiga no controle da favela
Mas o diabo é que a donzela era do lar
Já tinha dois barrigudinhos com o Anescar
(O Cidimar e o Tom)

Moleque pegou pelo braço da menina
Mal disse a sina de não ser seu namorado
Menina estremeceu, correu, tropeçou
Era o malandro da quebrada e a desejou
Se emocionou, sorriu

E se amaram num opala de vidro fumê
Em qualquer encruzilhada, Vila das Mercês
Rita suspirava embevecida
Encharcada, o próprio prazer vertia

E se amaram num opala de vidro fumê
Em qualquer encruzilhada, Vila das Mercês
Rita cavalgava enfurecida,
Exalava um cheiro de maresia

De Luísa Maita

sexta-feira, 10 de junho de 2011

..:: Vou ali errar e já volto ::..


“Eu soube que ela foi chamada de covarde por ir embora, uma errante sem propósito, mas nem todo errante é sem propósitos, especialmente aquele que busca a verdade além da tradição, além da definição, além da imagem...”

Frase do filme "O sorriso de Monalisa", dirigido por Mike Newell.


quarta-feira, 8 de junho de 2011

..:: Porque tropeçar na fé é importante ::..



Ele tropeçou na fé e pensou:
"Isso é tudo o que existe"
As imagens surgiram na mente dele
E começaram a respirar
E todos os deuses, de todos os mundos
Começaram a colidir em um pano de fundo azul


Ele deu um passo, mas se sentiu exausto

Ele disse "vou descansar um pouco"
Mas quando tentou andar novamente
Ele já não era mais uma criança
E todas aquelas pessoas apressaram o passado

Realmente rápido e ninguém nunca sorriu

Lábios azuis

Veias azuis
Azul, a cor do planeta distante, tão distante

Ele tropeçou na fé e pensou:

"Isso é tudo o que existe"
As imagens surgiram na mente dele
E começaram a respirar
E ninguém nunca viu e ninguém nunca ouviu
Ele apenas seguiu o rumo
As imagens em sua mente despertaram
E começou a espécie

Eles começaram debaixo da árvore do conhecimento

E eles a cortaram para fazer uma cerca de estacas brancas
Eles marcharam ao longo das faixas da ferrovia
E sorriram para a câmera real de lentes amplas
Eles fizeram, no passado, as linhas inimigas
Só para se tornarem escravizados nas linhas de montagem

Azul... A cor mais humana...

Azul, a cor do nosso planeta distante, tão distante.

Tradução de "Blue Lips", de Regina Spektor.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

..:: A revolução é aqui, é no dia, é na gente ::..



Pouco a pouco, uma brasa aqui outra ali, um graveto aqui outro ali, fomos preparando nosso inferninho particular [...] Isso é que é, na verdade, a Revolução Brasileira. [...] ela ganha carne, densidade, penetra fundo na alma dos homens. O rio que vinha avolumando suas águas e aprofundando seu leito, até março de 1964, desapareceu de nossas vistas. Mas um rio não acaba assim. Ele continua seu curso, subterraneamente, e quem tem bom ouvido pode escutar-lhe o rumor debaixo da terra.

Do texto "Quarup ou ensaio de deseducação para brasileiro virar gente", de Ferreira Gullar.


Quando secar o rio de minha infância, secará toda dor.
Quando os regatos límpidos de meu ser secarem, 
minh'alma perderá sua força.
Buscarei, então, pastagens distantes - 
lá onde o ódio não tem teto para repousar.
Ali erguerei uma tenda junto aos bosques.
Todas as tardes me deitarei na relva 
e nos dias silenciosos farei minha oração.
Meu eterno canto de amor:
expressão pura de minha mais profunda angústia.

Nos dias primaveris, colherei flores
para meu jardim da saudade.
Assim, externarei a lembrança de um passado sombrio.

"Quando secar o rio de minha infância", de Frei Tito de Alencar.

terça-feira, 31 de maio de 2011

..:: E a gente segue caminhando, e sorrindo! ::..



Eu vivo a sorrir
Pro caso de você virar a esquina e adentrar a livraria
Pro caso de o acaso estar num bom dia
Pro caso de o destino me haver reservado a alegria
E o meu fardo estar fadado a ser a sua sina

Eu vivo a sorrir
Pro caso de você errar a vereda e acertar o elevador
Pro caso de o acaso estar inspirado
E emaranhar por capricho, tempo e espaço
Cruzando as nossas linhas soltas num laço

Eu vivo a sorrir
Vai que se materializa o meu sonho dourado
Vai que me espera com boas notícias o inesperado. 

"Eu vivo a sorrir", de Adriana Calcanhotto.

terça-feira, 24 de maio de 2011

..:: Ai, a saudade ::..



Penso que a saudade conjuga-se com diversas cores e sentimentos. Pode estar tanto para o preto, quanto para o branco e, ainda, para as múltiplas cores. Ela pode ser transparente, sim, pela inconstância, instabilidade, por ser muito e mesmo nada. Contudo, acho que a saudade também adquire tons obscuros, quando está embebida de tristeza e dor, porque pode ocorrer por uma ausência que deveria ser sanada, mas que assim não procede, pela presença que falta às vezes representar maiores aflições quando está perto. Ao mesmo passo, a saudade vincula-se ao cítrico, solar, anil... A um forte sentimento de alegria e felicidade. Por que não?! Talvez indique a possibilidade de rever, de estar perto, de voltar a frequentar aquilo que nos faz bem. A saudade pode ser uma prévia da realização de algo que está por vir, por ser expectativa, incerteza, desejo. De fato, a saudade constrói o presente e lugares de memória, sempre na perspectiva de recuperar, ainda que não seja possível, elementos de um passado saudoso, mesmo que inspire incertezas e um estado de lugar não seguro.

Texto de Elisson César e Uriel Bezerra.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

..:: Sobre a mulher que deu tabaco na presença do marido ::..



Quem perde o tempo no mundo só com conversa fiada 
bota falta em todo mundo, não nota virtude em nada. 
Se acaso engolisse a língua, morreria envenenada.

Às vezes contam estória, que nem sequer faz sentido, 
que no dia de São Nunca talvez tenha acontecido. 
Da mulher que deu tabaco, na presença do marido.

Dona Juca era dotada de perfumado sovaco, 
e quem ferisse uma perna numa queda ou num buraco, 
ela curava a ferida com o seu próprio tabaco.

Quando ela via uma desventurada pessoa 
horrivelmente gripada, soltando espirros à toa 
dava o tabaco, e aquela enferma ficava boa.

Seu marido Mororó dizia: - Você me insulta, 
quanto mais dá seu tabaco, mais a multidão se avulta. 
Assim, ou para com isso, ou eu vou cobrar consulta.

Mas Dona Juca dizia: - Essa bobagem não faça. 
Quando eu tenho algumas pratas, você bebe de cachaça. 
Cobre pelo seu trabalho, meu tabaco eu dou de graça.

Pau da vida, Mororó respondeu: - Aqui, ninguém 
vai mais pedir seu tabaco, pois pra mim não pega bem. 
Quem pedir o seu tabaco, você diga que não tem.

Porém, como aquilo tinha que acontecer um dia, 
quanto mais passava o tempo, mais a multidão crescia, 
procurando a Dona Juca, em magistral romaria.

Pra mostrar que Dona Juca tinha mesmo grande prova, 
basta dizer que uma velha, já com os dois pés na cova 
foi visitar Dona Juca, pra pedir pra ficar nova.

Dizia a velha aos presentes: - Não pensem que sou maluca, 
sou velha, porém não tenho qualquer problema na cuca. 
Tenho fé no milagroso tabaco da Dona Juca.

E disse mais a velhinha: - Todo mundo tem fé nela, 
não há esse que não queira ao menos sonhar com ela, 
pedir pra sentir o cheiro que tem o tabaco dela.

Conselhos de medicina da nossa grande nação 
pediram que o governo procedesse intervenção. 
De Juca, o curandeirismo, a pronta proibição.

A população local lançou logo um manifesto 
e contra a proibição uma nota de protesto, 
achando que o conselheiro devia ser mais modesto.

A imprensa curiosa, rádio, TVs e jornais, 
volantes de reportagens e as emissoras locais, 
mandaram à casa de Juca os seus profissionais.

Muitas pessoas movidas por humanos sentimentos, 
na casa de Dona Juca armaram acampamentos, 
assistindo a cobertura de tais acontecimentos.

E os poetas distantes, da vigilância da Lapa, 
faziam suas propagandas enquanto bebiam garapa, 
exibindo seus folhetos com Dona Juca na capa.

Numa bengala escorado, um doente entrou na sala, 
quando cheirou o tabaco, readquiriu a fala. 
Pra provar que ficou bom, rebolou fora a bengala.

Nunca a fama de um vivente depressa se espalhou tanto 
nos quatro cantos do mundo. O seu nome em cada canto 
desfrutava do respeito, do mais milagroso santo.

Quando nem a medicina dava esperança sequer 
ao enfermo, ele inda tinha uma fezinha qualquer, 
no tabaco milagroso, daquela santa mulher. 

E a própria natureza como que para testar 
o poder que possuia o tabaco de curar, 
fez aparecer doenças muito estranhas no lugar.

Por exemplo, na cabeça de um sujeito, ainda moço 
apareceu certo dia uma espécie de caroço, 
um par de colossais chifres, um mais fino, outro mais grosso. 

O rapaz, secretamente, foi ao lar de Dona Juca 
e disse: - Um dia eu senti na testa uma dor maluca, 
depois nasceu esses troços no alto da minha cuca.

Dona Juca disse: - O meu tabaco pode curar, 
porém a sua mulher terá que colaborar, 
pois do jeito que ela faz, nem adianta tentar. 

Este negócio de chifre não é um costume novo. 
Eu esfrego meu tabaco, ela pede fumo ao povo. 
Eu sei que existe a chuva, porém eu mesmo não chovo.

O rapaz chegando em casa disse pra Conceição: 
- O milagroso tabaco me tira desta aflição. 
No entanto, é necessário sua colaboração. 

Conceição, disse assustada: - Colaborar? Como assim? 
Não dê mais o seu tabaco, não seja assim tão ruim... 
É você dando o tabaco e nascendo chifre em mim.

Aí Conceição cortou os males pelas raízes 
e o pobre rapaz dos chifres também superou as crises. 
Viveram oitenta anos, extremamente felizes. 

Dona Juca recebeu parabéns até do Doutor Zeca, 
que fizera experiência com sua própria cueca, 
e não conseguiu nascer cabelo em sua careca.

Passando a careca no tabaco prodigioso,
ficou cabeludo, e Zeca se tornou em fervoroso, 
romeiro de Santa Juca, do tabaco milagroso.

Cordel de Gonçalo Ferreira da Silva

domingo, 17 de abril de 2011

..:: Sobre dar mais aos que vem de cá ::..



Por que é tão tendencioso servir-se aos de lá? Não seria coerente se dar com mais afinco aos que são de cá? Até suponho respostas, mas confesso que me falta impessoalidade para discorrer sobre elas!


[...]

E eis que um diálogo nos conduz ao exercício da reflexão...


Maricota: - "Sobre dar aos que vem de cá". Elementar e ao mesmo tempo muito forte.
Januário: - É um dilema que me atormenta. Essa disponibilidade sempre tão "disponível" aos outros, àqueles que são da rua, e uma certa rudeza, desinteresse, pelos de casa.
Maricota: - Aos da rua a gente escolhe o que doa, aos de casa a gente quase nunca pode escolher. É nessa tentativa (ou na falta dela) que somos rudes. A gente foge a essas responsabilidades.
Januário: - A gente não só escolhe, mas escolhe sempre o melhor, sempre seleciona, parece querer agradar. É como se fosse uma busca constante pela conquista desse outro de lá. E como que um comodismo com os de cá, por estes já terem sido conquistados pelo sangue e por todas as relações já estabelecidas.
Maricota: - Esse também é um fator, fortíssimo!


[...]

Então, no fim do diálogo:


Maricota: - Aquela foto sua está linda!
Januário: - São seus olhos, meu bem!

sábado, 19 de março de 2011

..:: Eu só peço a Deus ::..



Solo le pido a Dios:

Que el dolor no me sea indiferente,
Que la reseca muerte no me encuentre
Vacia y sola sin haber hecho lo suficiente.

Que lo injusto no me sea indiferente,
Que no me abofeteen la otra mejilla
Despues que una garra me araño esta suerte.

Que la guerra no me sea indiferente,
Es un monstruo grande y pisa fuerte
Toda la pobre inocencia de la gente.

Que el engaño no me sea indiferente
Si un traidor puede mas que unos cuantos,
Que esos cuantos no lo olviden facilmente.

Que el futuro no me sea indiferente,
Desahuciado esta el que tiene que marchar
A vivir una cultura diferente.

Que la guerra no me sea indiferente,
Es un monstruo grande y pisa fuerte
Toda la pobre inocencia de la gente.

"Solo le pido a Dios", de Leon Gieco e Raul Ellwanger.

sábado, 12 de março de 2011

..:: Somos árvore, mas também papel ::..



Esta vez somos de papel
somos la corteza de un árbol
que nada tiene que ver
con el sudar del viento

Somos servilleta
y el recibo de luz

Esta vez somos de papel, somos
las infracciones y las hojas de la biblia
esta vez somos honestos

Somos servilleta
y el recibo de luz

Esta vez somos de papel
somos las infracciones
esta vez somos honestos para siempre.

"Esta vez", de Julieta Venegas e Gustavo Herrera.

"Somos de papel
Somos a casca de uma árvore
Que nada tem que ver
Com o suar do vento

Somos guardanapo
E o recibo de luz"

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

..:: Pelo direito à existência plena ::..



Debulhar o trigo
Recolher cada bago do trigo
Forjar do trigo o milagre do pão e se fartar de pão.

Decepar a cana
Recolher a garapa da cana
Roubar da cana a doçura do mel, se lambuzar de mel.

Afagar a terra
Conhecer os desejos da terra
Cio da terra, propícia estação de fecundar o chão.

"O cio da terra", de Milton Nascimento e Chico Buarque.

Tô indo, mas só vou porque acredito, com todas as minhas forças, na possibilidade de se fazer da terra o que já é vida!

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

..:: Hoje, quero só notícias boas ::..



Hoje eu escolhi passar o dia cantando
De hoje em diante
Eu juro felicidade a mim
Na saúde, na saúde, juventude, na velhice
Vou pelos caminhos brandos
A minha proposta é boa, eu sei
De hoje em diante tudo se descomplicará
Com um nariz de palhaço
Rirei de tudo que me fazia chorar
Cercado de bons amigos, me protegerei
Numa mão, bombons e sonhos
Na outra, abraços e parabéns!

Trechos de "Meu aniversário", de Vanessa da Mata

Nem gosto, mas que sejam muitos!

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

..:: "A aprendizagem é a nossa própria vida" ::..



Se viene a la tierra como cera, – y el azar nos vacía 
en moldes prehechos. Las convenciones creadas 
deforman la existencia verdadera [...] Las 
redenciones han venido siendo formales; – es 
necesario que sean esenciales [...] La libertad 
política no estará asegurada, mientras no se asegura 
la libertad espiritual. […] La escuela y el hogar son 
las dos formidables cárceles del hombre.

Vem-se à  terra como cera – e a sorte  nos esvazia 
em moldes pré-fabricados. As convenções criadas 
deformam a existência verdadeira [...] As 
soluções tem se mantido formais; – é 
necessário que sejam essenciais [...] A liberdade 
política não estará assegurada se antes não se assegurar 
a liberdade espiritual [...] A escola e o lar são 
as duas grandes cadeias do homem.

Frase do título, de Paracelso. Texto, de José Martí. Ambos são epígrafes do livro "A educação para além do capital", de István Mészáros. Tradução para o português, de Eugênio Cruz.

Foto: Alunos meus em tempos de outrora. Lá onde tudo apenas começava, e criava raízes.
"Assim caminho, reconhecendo minhas razões para existir..."               
                       

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

..:: Meu erro foi não saber te amar ::..



Eu queria ser
Um tipo de compositor
Capaz de cantar o nosso amor
Modesto

Um tipo de amor
Que é de mendigar cafuné
Que é pobre e às vezes nem é
Honesto

Pechincha de amor
Mas que eu faço tanta questão
Que se tiver precisão
Eu furto

Que enfim, nosso amor
Também pode ter seu valor
Também é um tipo de flor
Que nem outro tipo de flor

Dum tipo que tem
Que não deve nada a ninguém
Que dá mais que maria-sem-vergonha

Eu queria ser
Um tipo de compositor
Capaz de cantar o nosso amor
Barato

Um tipo de amor
Que é de esfarrapar e cerzir
Que é de comer e cuspir
No prato

Mas levarei esse amor
Com zelo de quem leva o andor
Para sempre.

Trechos e adaptação de "Amor barato", de Francis Hime e Chico Buarque.


"Leve então, o resto desta ilusão e todos os cuidados 'teus'..." 
Desencanto - Chico Buarque

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

..:: Divagações: Última parada 174 ::..



"Pra quem vê a luz, mas não ilumina suas mini-certezas, vive contando dinheiro e não muda quando a lua é cheia... Que tão no mundo e perderam a viagem... Senhor, piedade! Lhes dê grandeza e um pouco de coragem."

Hoje, após muito tem
po
de comentários e indicações, assisti à "Última parada 174", filme que narra, não de maneira fictícia, mas poética [concebido assim nas minhas lentes] a história de Sandro do Nascimento, menino de rua que resiste à chacina da Candelária na década de 1990, no Rio de Janeiro, e se torna alvo das câmeras novamente tempos depois pelo sequestro do ônibus 174, na referida cidade, que tem o seu desfecho marcado pela morte de uma refém e do próprio Sandro. Breve sinopse colocada, me vi em mais um momento de reflexão, momento de recorrer àquilo que há de mais humano em mim e conceber a explicação para determinados fatos na história de vida deste mesmo humano que nos atordoa. Nem sei se sou justo, mas peço piedade, por aqueles que não tem a sensibilidade de perceber, como eu, quanto o humano que somos não se perfaz sozinho, mas num emaranhado de relações e de experiências múltiplas. Piedade, porque assim não estarei cometendo o mesmo erro, não estarei a julgar as histórias alheias, mas tentarei compreendê-las. Piedade a mim, por conceder-lhes compaixão, mas é que o humano que aqui habita não me permite ser diferente.

Hoje, uma década depois, relembro essa terrível história. Muito angustiado pela morte de Geisa, a refém, mas não menos pela morte de Sandro, o "marginal".

"Do rio que tudo arrasta se diz que é violento, mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem!" - Bertold Brecht.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

..:: Menina minha, de saia rendada ::..


Pelo jeito dela
Pelo dengo, pela simpatia
Se eu caio na roda
Essa moça pode me segurar.

Ela lá no fundo
É meu mimo, é meu tino
A lembrança do carimbo
No meu peito anti-material.

Eu vou pedir pro tempo esperar
Eu quero mais:
Eu vou pedir pro tempo me esperar, se atrasar
Que me deixe contigo, me faça um favor
Que vá e esqueça de passar por nós.

Trechos de "Ah, se eu vou", de Lula Queiroga, "Sala de terê", de Monique Kessous e "Pitangueira", de Monique Kessous e Denny Kessous, respectivamente no post.

domingo, 2 de janeiro de 2011

..:: E o ano, enfim começa! ::..



E assim começou, cheio de recadinhos extensos e incovenientes, é, incovenientes, porque sempre são regados a cópias e frases prontas. Sinceramente, em nada isso me agrada, passa longe, chega a me deixar intensamente aborrecido. Vejo a falta de criação mesmo no discurso daqueles que se implicam em saudar o que vem a diante, dispostos à renovação. Melhor é começar o ano comendo imbu com a sobrinha, espírito de criança, gentil e cheio de encantamento, tão espontâneo, que dá vontade de provar esse gosto "azedo" a todo instante pelos próximos dias da nova era que se inicia. Isso mesmo, então que venha o "azedo", mas tão construtivo e inovador que me alegra, me fascina e me instiga a desejá-lo, porque nem só de carne vivem os homens, né, moço? Mas de movimento, de um curso cheio de percursos e de verde, do "azedo" do imbu, acompanhado do sorriso de uma menina apenas de vestido, porém de alma nada rosa.