"Não basta dizer que se é consciente de algo; é-se, também, consciente de algo como sendo algo"



quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

..:: Lugares de memória ::..



Percorrer as estradas de terra da zona rural, a trabalho, cheias de "costelas de vaca", ultrapassando riachos e açudes, em meio a cabritos e "pés de palma" para "dar de comer" ao gado do Sertão, além de contemplar os assobios de pássaros, muito particulares, tem me feito um bem danado. Tem acionado lembranças que recorrem ao tempo em que as férias não se perfazia apenas como momento de recreação e folga da escola, pois era a aproximação do terreno em que se podia semear sorrisos, liberdade e vida. Um lugar pra ser acordado com os galos a cantarolar; onde estava acompanhado de brisa e verde, com os leves sussurros daqueles que compunham a terra, na qual eu me banhava em grandes lajedos de pedra carregando latas na cabeça e a certeza de que a minha intimidade pertencia ao vento e a todas as testemunhas de que dispõe tal lugar. O melhor de tudo era o leite de cabra que clareava os meus cabelos, as vacas que fazia questão de ordenhar junto ao meu tão querido tio "Manequinha", dentre tantas outras atividades que enfeitavam o nosso cotidiano e que fazia de mim um dos sobrinhos preferidos. Preferido mesmo, eu era da minha vozinha "Bilia". Era um transbordamento de cuidado e amor, por mim e por essa terra de que tanto falo; a mesma terra que adoçou a sua existência, quando fora estadia, mas também ao se fazer ausência, afinal de contas, para que nos servem as lembranças e os lugares de memória que construímos?! Uma ausência que hoje promove esse derramar de lágrimas aqui. A falta das duas, da terra e da vozinha, só alimenta o desejo de que não se torne comum sentir estranheza quando me deparar com lugares semelhantes, só porque AMOR e VIDA não se subverte assim, com o uso de aspas (") para demonstrar que as palavras que nos identificam estão erradas ou não compõem o vocabulário usual.

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