"Não basta dizer que se é consciente de algo; é-se, também, consciente de algo como sendo algo"



quarta-feira, 25 de agosto de 2010

..:: Desequilíbrio ::..


"Arde aqui dentro de mim uma pouca vontade, 
com gosto cortante de caco de vidro, desnutrida, exposta à fratura." 

Trecho de "Desequilíbrio", de Fábio Trummer - Banda Eddie.

"Fardas bonitas, condecorações.
Documentam na nossa história,
o seu rastro sujo de sangue e glória..."

Trecho de "Carta aos missionários", de Marcelo Hayenna, Cal e Nilo Nunes.



..:: Piedade ::..



O frio às vezes quer ser quente, quer acalentar, mas a natureza não deixa porque o frio não nasceu pra isso. Não compõe a sua lista de habilidades a proeza de aquecer; ele é gélido, frígido, por hora amargo, no entanto, vive tentando acomodar a sombra daqueles que o sustentam.

Tantos já se foram, quantos instantes já se perderam, mas eu peço piedade, piedade às sombras e aos sustentáculos. Suplico piedade ao mesmo passo que grito: permitam-me exercer a minha frieza, não por egoísmo, mas por vocação.

..:: Desilusões do século passado - Quino ::..



domingo, 22 de agosto de 2010

..:: Inebriai-vos ::..



É preciso estar sempre ébrio. Tudo se resume a isso: é a única questão. Para não sentir o horrível fardo do Tempo que abate vossos ombros e vos verga em direção à terra, é preciso inebriar-vos sem trégua.

Mas de quê? De vinho, de poesia ou de virtude, à vossa escolha. Mas inebriai-vos. 

E se às vezes, sobre os caminhos do palácio, sobre a erva verde de um canal, na solidão morna de vosso quarto, vós vos acordardes, a ebriedade já diminuída ou extinta, perguntai ao vento, à onda, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a tudo que foge, a tudo que geme, a tudo que gira, a tudo que canta, a tudo que fala, perguntai que horas são; e o vento, a onda, a estrela, o pássaro, o relógio, vos responderão: “É hora de se inebriar! Para não serdes os escravos martirizados do Tempo, inebriai-vos; inebriai-vos sem cessar! De vinho, de poesia ou de virtude, à vossa escolha.”

Texto de Charles Baudelaire. Tradução encontrada no blog "Armadura de vento": http://armaduradevento.blogspot.com/.

domingo, 8 de agosto de 2010

..:: E eis que tudo começa ::..



Renascido e inseguro
Cuspido em novo terreno
Incerto, sem convicção
Essa fraca e instável hora

Primeiro dia,
Começa outra vez
Primeiro passo, 
Não estou nem fazendo mais sentido por enquanto

Eu finjo até eu pseudo-conseguir
Começar do zero outra vez, mas agora "eu" como "eu"
E não como "nós"
Hesitante e agitado
Tímido, sem uma mão
Disfarço-me de bravo com intenções de aço

Pequeno e distante
Olhos molhados
Abertos e cansados
Se Deus está fazendo apostas
Eu rezo que ele queira perder

Traduzido e adaptado de "Not as we" - Alanis Morissette


domingo, 1 de agosto de 2010

..:: Metade ::..




Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio
Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca
Porque metade de mim é o que eu grito
Mas a outra metade é silêncio.
Que as palavras que eu falo
Não sejam ouvidas como prece
E nem repetidas com fervor
Apenas respeitadas
Porque metade de mim é o que ouço
Mas a outra metade é o que calo.
Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso
Que eu me lembro ter dado na infância
Porque metade de mim é a lembrança do que fui
Mas a outra metade eu não sei.
Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
Pra me fazer aquietar o espírito
E que o teu silêncio me fale cada vez mais
Porque metade de mim é abrigo
Mas a outra metade é cansaço.
E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor
E a outra metade também.

Oswaldo Montenegro