"Não basta dizer que se é consciente de algo; é-se, também, consciente de algo como sendo algo"



quarta-feira, 24 de novembro de 2010

..:: Negar-se ::..



Engraçado, vivemos em uma constante trincheira entre a eficiência dos "humanos" e a razão dos "exatos", nessa discórdia em que se prega a nossa inutilidade perante a ciência. Diante disso, o que eu quero observar é que nós devemos ocupar, sim, os espaços, incomodar e inclusive desagradar, porque não pedimos para nascer humanos e não carregaremos para sempre o estigma de padecer em meio às formas e técnicas, sem nos fazer e nos perceber humanos, pois o homem só se faz homem quando age e se reconhece como tal. Se mantemos em nossas mentes e em nosso cotidiano essa repulsão ao outro, à obra do outro, à arte do outro, estamos negando a nossa própria condição de SER HUMANO.

domingo, 21 de novembro de 2010

..:: Dia poético, pra não dizer agitado ::..



Quem esteve aqui
viu barquinho de gazeta
ancorar no mistério

Notas musicais
dentre bolas de sabão
que de nossas serenatas vieram

Flores que ofertamos
e que nunca morrerão
em vasos e jarros de bronzeiam

Os anjos, de onde vem?
sua vida, bem vinda, na trilha
os livros não são sinceros

Quem tem Deus como império
no mundo, não está sozinho
ouvindo sininhos

"Magamalabares", de Carlinhos Brown

Dia de movimento, de correr, brincar e congregar. Que assim sejam os 365 dias de todos os anos de minha existência.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

..:: O que ser ela? ::..



Olha, será que ela é moça? 
Será que ela é triste? 
Será que é o contrário? 
Será que é pintura?
Se ela dança no sétimo céu 
E se ela só decora o seu papel 
E se eu pudesse entrar na sua vida?

Olha, será que é de louça?
Será que é de éter?
Será que é loucura? 
Será que é cenário? 
Se ela mora num arranha-céu 
E se as paredes são feitas de giz 
E se ela chora num quarto de hotel
E se eu pudesse entrar na sua vida?

Olha, será que é uma estrela? 
Será que é mentira? 
Será que é comédia?
Será que é divina? 
Se ela um dia despencar do céu 
E se os pagantes exigirem biz
E se um arcanjo passar o chapéu
E se eu pudesse entrar na sua vida?

Trechos de "Beatriz" - Edu Lobo e Chico Buarque

Só porque, a princípio, eras apenas uma miragem, eu a contemplava e queria fazer parte de sua vida. Hoje, já não tenho dúvidas da sua concretude, pois é imensamente presente em mim.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

..:: Guardar ::..



Guardar uma coisa não é escondê-la ou trancá-la.
Em cofre não se guarda coisa alguma.
Em confre, perde-se a coisa de vista.
Guardar uma coisa é olhá-la, fitá-la, mirá-la por admirá-la
iluminá-la ou ser por ela iluminado.
Guardar uma coisa é vigiá-la, é fazer vigília por ela,
velar por ela, estar acordado por ela.


[...]


Por isso se escreve, por isso se diz, por isso se publica,
Por isso se declara um poema:
Para guardá-lo.

De Antonio Cícero

terça-feira, 16 de novembro de 2010

..:: Revisitando a minha condição ::..



Quando contemplo a pequena duração da minha vida absorvida na eternidade precedente e seguinte, o pequeno espaço que preencho e mesmo que vejo, abismado na infinita imensidão dos espaços que ignoro e que me ignoram, apavoro-me e espanto-me por me ver aqui e não lá, pois não existe razão por que aqui e não lá, por que agora e não então. Quem me colocou aqui? Pela ordem e pela condução de quem este lugar e este tempo foi destinado a mim?

Pascal

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

..:: Saudade II ::..



Hoje não senti, mas passei a contemplar o teu cheiro por outras vias, já não mais expresso em dor e angústia. Sim, devo confessar que não foi fácil, não exercitei a arte mais profunda de reviver meus temores de maneira sutil, isso seria demais pra mim, encontrar sutileza em tudo aquilo que deve ser lapidado, que é bruto, ríspido, e resiste em mim! É uma angústia que se renova, mas angustiar-se nem sempre é padecer.

Perfeita sintonia senti, melhor ainda é perceber que somos cuidados, que temos cuidados, que zelam por nós! Saber que existem pessoas que nos arrancam o melhor (e o pior) que temos e tomam pra si não somente a responsabilidade de preservar o que há de belo e desprezar o que se tem de amargo, mas (re) significar o belo e o amargo em mim, para que o belo não me acomodes e o amargo represente o gosto do outro que eu também quero.