"Não basta dizer que se é consciente de algo; é-se, também, consciente de algo como sendo algo"



quinta-feira, 30 de junho de 2011

..:: Maria e moleque ::..


Moleque tava dando um tempo na fogueira
Puxando um "back" na ladeira da favela
Quando passou Maria Rita do Anescar
A mais cheirosa e mais bonita do lugar

Moleque se mandou atrás da rapariga
Deixou Formiga no controle da favela
Mas o diabo é que a donzela era do lar
Já tinha dois barrigudinhos com o Anescar
(O Cidimar e o Tom)

Moleque pegou pelo braço da menina
Mal disse a sina de não ser seu namorado
Menina estremeceu, correu, tropeçou
Era o malandro da quebrada e a desejou
Se emocionou, sorriu

E se amaram num opala de vidro fumê
Em qualquer encruzilhada, Vila das Mercês
Rita suspirava embevecida
Encharcada, o próprio prazer vertia

E se amaram num opala de vidro fumê
Em qualquer encruzilhada, Vila das Mercês
Rita cavalgava enfurecida,
Exalava um cheiro de maresia

De Luísa Maita

sexta-feira, 10 de junho de 2011

..:: Vou ali errar e já volto ::..


“Eu soube que ela foi chamada de covarde por ir embora, uma errante sem propósito, mas nem todo errante é sem propósitos, especialmente aquele que busca a verdade além da tradição, além da definição, além da imagem...”

Frase do filme "O sorriso de Monalisa", dirigido por Mike Newell.


quarta-feira, 8 de junho de 2011

..:: Porque tropeçar na fé é importante ::..



Ele tropeçou na fé e pensou:
"Isso é tudo o que existe"
As imagens surgiram na mente dele
E começaram a respirar
E todos os deuses, de todos os mundos
Começaram a colidir em um pano de fundo azul


Ele deu um passo, mas se sentiu exausto

Ele disse "vou descansar um pouco"
Mas quando tentou andar novamente
Ele já não era mais uma criança
E todas aquelas pessoas apressaram o passado

Realmente rápido e ninguém nunca sorriu

Lábios azuis

Veias azuis
Azul, a cor do planeta distante, tão distante

Ele tropeçou na fé e pensou:

"Isso é tudo o que existe"
As imagens surgiram na mente dele
E começaram a respirar
E ninguém nunca viu e ninguém nunca ouviu
Ele apenas seguiu o rumo
As imagens em sua mente despertaram
E começou a espécie

Eles começaram debaixo da árvore do conhecimento

E eles a cortaram para fazer uma cerca de estacas brancas
Eles marcharam ao longo das faixas da ferrovia
E sorriram para a câmera real de lentes amplas
Eles fizeram, no passado, as linhas inimigas
Só para se tornarem escravizados nas linhas de montagem

Azul... A cor mais humana...

Azul, a cor do nosso planeta distante, tão distante.

Tradução de "Blue Lips", de Regina Spektor.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

..:: A revolução é aqui, é no dia, é na gente ::..



Pouco a pouco, uma brasa aqui outra ali, um graveto aqui outro ali, fomos preparando nosso inferninho particular [...] Isso é que é, na verdade, a Revolução Brasileira. [...] ela ganha carne, densidade, penetra fundo na alma dos homens. O rio que vinha avolumando suas águas e aprofundando seu leito, até março de 1964, desapareceu de nossas vistas. Mas um rio não acaba assim. Ele continua seu curso, subterraneamente, e quem tem bom ouvido pode escutar-lhe o rumor debaixo da terra.

Do texto "Quarup ou ensaio de deseducação para brasileiro virar gente", de Ferreira Gullar.


Quando secar o rio de minha infância, secará toda dor.
Quando os regatos límpidos de meu ser secarem, 
minh'alma perderá sua força.
Buscarei, então, pastagens distantes - 
lá onde o ódio não tem teto para repousar.
Ali erguerei uma tenda junto aos bosques.
Todas as tardes me deitarei na relva 
e nos dias silenciosos farei minha oração.
Meu eterno canto de amor:
expressão pura de minha mais profunda angústia.

Nos dias primaveris, colherei flores
para meu jardim da saudade.
Assim, externarei a lembrança de um passado sombrio.

"Quando secar o rio de minha infância", de Frei Tito de Alencar.